sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Axé Brasil & Axé Itália

No período de 25 de novembro a 29 de dezembro de 2008 o Projeto Axé mergulhou fundo em um processo de elaboração de um planejamento estratégico para 2009-2010 capitaneado pelo Professor Gey Espinheira. Absolutamente dispensável falar da riqueza que este processo representou para a equipe do Axé e principalmente os frutos que já estamos colhendo com este investimento!
Gostaríamos de agradecer à AVINA por nos ter apoiado nesta empreitada.
Pronto estávamos pois para receber, no período de 05 a 17 deste mês, a visita de uma "missão italiana" - composta por Maria Tereza Scassellati, presidente da Fundação Altamane, que promoveu a vinda de Francesco Aureli - atual diretor geral de Axé Itália e Giovanni Comboni, consultor para assuntos de comunicação e marketing. Profissionais de larga bagagem na área de cooperação técnica internacional, em especial para o terceiro setor, que fizeram um mergulho profundo e superdedicado, com excelente resultado avaliativo das novas possibilidades para o Projeto Axé, quer nos projetos propostos no Brasil, quer nas novas diretrizes da Associação Axé Itália, que com a chegada de Francesco Aureli muda seu escritório de Florença para Roma.
Na Bahia, o Axé permanece confiando na força do Governo do Estado para garantir sua continuidade, em tempos tão difíceis para a área social.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Senhor do Bonfim, Rogai Por Nós!

Feliz 2010????

Quem atua na área social de Salvador da Bahia, principalmente com o segmento da infância, adolescência e juventude, fecha o ano de 2008 profundamente entristecido. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública [1] 1.223 pessoas foram assassinadas na Grande Salvador no ano de 2006. Em 2007 este número cresceu para 1.665, culminando em 2008 com um preocupante e vergonhoso número de 2.189 assassinatos. Em apenas dois anos, apesar de denúncias sistemáticas feitas pelo FCCV- Fórum Comunitário de Combate à Violência, ocorreu um incremento de 56% no número de assassinatos.
Historicamente as mortes por homicídio tem basicamente um perfil:

Na faixa de 15 a 39 anos-------------------67.4%
Escolaridade 1º grau-----------------------68.5%
Bairros degradados e periféricos-------- -80.0%
Afro-descendentes até 18 anos-----------90.0% [2]

Cada vez mais na nossa cidade a tragédia de assassinatos de adolescentes e jovens da periferia aumenta assustadoramente. Sempre Pobres! Sempre Negros! Todos vítimas da estrutura perversa da nossa sociedade. Entre os primeiros minutos de 2009 e a noite do dia 05/01, chega a 50 a quantidade de assassinatos praticados em Salvador e região metropolitana. Sempre Pobres! Sempre Negros!
Os dois gerentes da nossa cidade, senhor Wagner e senhor João Henrique, eleitos e pagos para fazer política, nada escutam, nada veem, nada fazem. Se retiram, se recolhem, se escondem, esperando 2010 chegar.
O professor da UFBA Gey Espinheira afirma: “preservamos o nosso patrimônio histórico-arquitetônico, ofertamos aos turistas o nosso passado e o presente de nossas crianças e adolescentes nas ruas drogados e famintos, exilados de suas famílias....”
Nós, do Projeto Axé, e integrantes de muitas outras ONGs que atuam nos espaços vazios de políticas públicas, continuamos resistindo e buscando forças para renovar o nosso compromisso político com a cidade e, em especial, com os meninos e meninas em situação de vulnerabilidade social que se encontram nas ruas e nas comunidades periféricas de Salvador da Bahia. Este quadro de indignidade é para nós uma realidade, já que convivemos diariamente com essas pessoas brutalmente vitimizadas, que por sua vez podem reagir com violência produzindo vítimas. É preciso dar um basta a este círculo que se perpetua perversamente.
Este é um movimento político que busca influir na capacidade de organização e participação da sociedade civil como também, acima de tudo, cobrar responsabilidade do Estado.
Para um bom começo neste dia dedicado ao Senhor do Bonfim:
ouvir mais as vozes humanas do que as vozes do mercado,ou seja, as vozes das classes populares para compreender melhor a vida com as suas inúmeras possibilidades de olhar e perceber a cidade de outros/novos lugares e saberes.

A política é um movimento e não uma burocracia!

[1] Jornal A Tarde, pág. A4 do dia 06/01/2009
[2] Documento Rastros da Violência em Salvador




quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Enquanto isso, em 2009...

Foto:Boletim do Ministério Público - nº 66, Dez/08


O tema das crianças e adolescentes usuárias de crack é a bola da vez da mídia brasileira! O "Fantástico" da Rede Globo de Televisão, iniciou nesse primeiro domingo de 2009 a série "Meninos Infratores" , uma fotografia da infância e adolescência pobre brasileira. Embora o Projeto Axé questione algumas opiniões ali emitidas, comemora que a grande imprensa esteja colocando na ordem do dia um assunto tão importante quanto urgente para toda a sociedade brasileira.
"É uma droga de uma potência avassaladora. Ela causa delírios e alucinações profundos. O usuário perde o controle da sua própria vida, das suas próprias atitudes, ao ponto de que a vida dele já não vale mais nada", diz a psicóloga Sylnara Borges, na entrevista concedida ao programa.
Desde o início de 2007, quando o Projeto Axé formalizou queixa ao Ministério Público da Bahia, denunciando o estado lastimável de crianças e adolescentes em situação de rua nas áreas do Comércio e do Centro Histórico e a falta de espaço público de atendimento e tratamento médico e psicológico para tal segmento, os educadores de rua enfatizavam a necessidade da questão ser tratada como calamidade na área de saúde pública. Em seus 18 anos de ação educativa o Axé nunca havia se deparado com tamanha dificuldade pedagógica: não há como trabalhar o vínculo que precisa ser estabelecido entre educando e educador pois o crack não permite a construção do mesmo. E o que dizer da ação educativa em período de abstinência? Como pode um educador social ou um arteducador dar conta de um questões tão complexas sem a retaguarda de um serviço especializado em local apropriado, bem equipado, que permita o acolhimento desses jovens e de suas famílias, mantendo-os assistidos e longe da rua e de suas dinâmicas que facilitam a manutenção do vício e de suas trágicas consequências?
"A omissão do Poder Público para com esses meninos já motivou o Ministério Público, inclusive, a ajuizar uma ação civil pública contra o Município que, infelizmente, recorreu da sentença e, até hoje, inviabiliza a solução do problema", diz a procuradora de Justiça Lícia Oliveira - Coordenadora do Centro de Apoio às Promotorias de Justiça da Infância.
Nos últimos dois anos o Projeto Axé vem participando de inúmeras reuniões junto a todos os orgãos públicos e instituições como o CETAD (Centro de Tratamento ao Abuso de Drogas) e a Aliança de Redução de Danos Fátima Cavalcante - da UFBa - sob a regência do MP, mas até o momento Estado e Município não efetivaram políticas públicas que promovam ações reais de resolução do caso. E a sociedade civil precisa manifestar-se sobre isso. É no mínimo injusto e perverso condenar crianças e adolescentes - já tão brutalmente violentadas em seus direitos de serem cuidadas - à morte pelo uso de crack, sem que lhes sejam dadas condições dignas de tratamento.
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei 8069 de 13/07/90:
Das Disposições Preliminares: Art. 4º
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.


Ação da Educação de Rua do Projeto Axé no Centro Histórico